Tuesday, June 20, 2006

Rogerio Lobato's side of the story...

Sábado, Junho 17, 2006


O golpe de Rogério Lobato



SÃO cada vez mais fortes os indícios que apontam para Rogério Lobato como sendo o principal responsável pelo caos militar e humanitário que se vive em Timor-Leste desde o dia 28 de Abril, quando uma manifestação de desertores do exército acabou num confronto armado entre militares e civis, desencadeando nas semanas seguintes uma revolta incontrolável que contou com o apoio de polícias e de grupos paramilitares supostamente fiéis ao ex-ministro do Interior.

Numa tentativa de preservar provas, os procuradores internacionais mandatados pela ONU resolveram começar já esta semana a investigação criminal, antecipando assim a chegada de uma equipa de polícias designada pelo secretário-geral, Kofi Annan

Desde hoje que os procuradores internacionais têm segurança 24 horas por dia como medida de precaução.

Dada a incerteza sobre a quantidade e o paradeiro de muitas das armas compradas nos últimos anos para a polícia por Rogério Lobato, os magistrados acreditam ter razões para temer pela sua integridade física.

Além de um grupo em Liquiçá (33 homens armados com metralhadoras AK-33) que denunciou na semana passada ter trabalhado debaixo das ordens directas do ex-ministro do Interior (tendo elaborado, entretanto, um relatório com detalhes sobre todos os seus contactos e actividades), o EXPRESSO apurou que ainda sobram pelo menos dois grupos semelhantes em Maliana e em Kotalama, perto de Ermera.

Um deles tem 20 homens e é liderado por um ex-guerrilheiro chamado António Limalima, enquanto o outro é composto por uma equipa de 16 homens coordenada pelo comandante Joaquim Roque. Ambos estão armados com metralhadoras AK-33 e usam fardas da Unidade de Reserva da Polícia, criada em 2004 pelo Governo para combater milícias nas zonas rurais.

Os tiroteios que ainda se ouvem à noite nessas e noutras áreas do país fazem acreditar que continuam activos. Estes paramilitares, incluindo o grupo de Liquiçá, fazem parte de uma alegada estrutura de segurança secreta da Fretilin, o partido do Governo que ainda há duas semanas elegeu Lobato para a vice-presidência, já depois da sua demissão do cargo de ministro do Interior e de haver suspeitas sobre o seu comportamento menos claro à frente das polícias.

O relatório do grupo de Liquiçá, assinado pelo comandante Railos e remetido esta semana a Xanana Gusmão, inclui os nomes de todos os elementos da Fretilin com quem foram feitos encontros e transacções de armas e equipamentos, além de discriminar os nomes dos mortos e feridos em combate, apresentando também um conjunto de números de série das armas que ainda estão na sua posse, para que sejam comparados com os registos da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

Railos alega que a entrega das armas ao seu grupo foi feita pelo comandante da polícia de fronteira, António da Cruz, sendo que o primeiro lote de 10 metralhadoras AK-33 e 6000 balas lhe chegou às mãos no dia 10 de Maio, pelas 22 horas, num encontro realizado no cemitério de Rate Pahlawan, perto da praia de Liquiçá.

António da Cruz esteve incontactável durante esta semana, mas cruzando as versões de todas as partes acerca dos confrontos de 22 a 25 de Maio, a informação contida nas cinco páginas do relatório do comandante Railos é consistente. Durante vários dias, houve um ataque coordenado a várias posições militares das Forças de Defesa de Timor-Leste (FDTL) em que participaram grupos rebeldes vindos das montanhas para Díli, liderados pelo major Alfredo Reinado e acompanhados por agentes da Unidade de Intervenção Rápida e da Unidade de Reserva da Polícia.

O tenente Gastão Salsinha, líder dos desertores do exército (conhecidos por peticionários), foi um dos participantes no ataque ao quartel-general das FDTL em Tasitolu nos dias 23 e 24 e admitiu ao EXPRESSO que o comandante Railos e os seus homens também estavam presentes no local, embora não tenha sido capaz de responder à pergunta sobre o que estariam a fazer ali peticionários armados, quando era suposto estarem desarmados e acantonados em Ermera, a 40 quilómetros da capital, tal como tinha afirmado antes em várias entrevistas.

Demasiadas coincidências. Foram precisamente os homens da polícia de fronteira comandada por António da Cruz que estiveram a fazer o controlo de entradas e saídas em Tassitolu no dia 28 de Abril, junto ao quartel-general das FDTL e ao local (Raikotu) onde houve o confronto armado entre o exército e os peticionários e seus apoiantes. A verdade é que os manifestantes não tinham armas de fogo quando saíram da frente do palácio do Governo, depois de terem incendiado dois carros com gasolina e atirado pedras ao edifício, mas ao fim de algumas horas, quando se envolveram no combate com os militares da FDTL em Tassitolu, já estavam na posse de metralhadoras, sendo que durante todo o trajecto foram acompanhados apenas pela polícia. Segundo Lino Saldanha, comandante-adjunto da PNTL para a área da administração, há um mês que um contingente de 80 polícias da fronteira se encontrava em Díli, vindo de Maliana.

Por outro lado, está por justificar o facto de se encontrarem mais de 500 polícias na cidade no dia 28 de Abril, mas terem sido destacados apenas 85 para a manifestação em frente ao palácio do Governo, não havendo qualquer reforço da segurança mesmo depois de os peticionários terem invadido o parque do edifício e incendiado dois carros. Esse pedido de auxílio foi feito diversas vezes por Mari Alkatiri ao ministro do Interior mas não teve qualquer efeito, obrigando o primeiro-ministro a requerer a intervenção das FDTL.

Ismael Babo, que esteve a coordenar as operações nesse dia, confessou ao EXPRESSO que recebeu ordens directas de Rogério Lobato não para reforçar a guarda ao palácio, mas antes para evacuar todos os membros do Governo e do parlamento para o quartel-general da polícia. Mais tarde, depois da viagem das centenas de manifestantes para Tasitolu ter sido acompanhada por apenas 12 polícias, o então ministro do Interior deu uma outra ordem: a retirada total dos agentes do local, mesmo constatando que os manifestantes precisariam de ser desarmados, deixando apenas um posto de controlo na rotunda do aeroporto, para ninguém passar na estrada além do exército.

Desde o dia 28 de Abril que em muitos bairros da cidade se espalharam os rumores sobre um massacre cometido pelos militares, dizendo-se que tinham sido mortos mais de 60 civis inocentes (apenas cinco estão confirmados pelo director do hospital de Díli) a mando de Mari Alkatiri. Foi isso que deu origem aos incêndios e às batalhas campais entre vizinhos, enchendo as imagens das televisões internacionais. A armadilha. As hierarquias das FDTL, contudo, acreditam terem sido empurradas para uma armadilha com o objectivo de diabolizar as forças armadas, alimentando o ódio no seio do povo ao núcleo duro de antigos guerrilheiros da resistência. Com isso o pilar do recém-criado e ainda frágil estado democrático de Timor-Leste cairia por terra, dando lugar a um reequilíbrio interno de poderes.

É unânime a opinião em Díli de que a situação política em Timor-Leste é, neste momento, muito complexa e de que existe uma teia intricada de cumplicidades e silêncios que poderá pôr em risco a investigação internacional, apesar de ela ter sido publicamente reclamada por todas as partes: presidente, primeiro-ministro, oposição, rebeldes, polícias e militares.

Parece haver uma notória vontade nos discursos e nas atitudes do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, e do próprio Xanana Gusmão de fazer com que o princípio de reconciliação nacional passe por cima do princípio da justiça e da responsabilização criminal. Daí a tolerância do Presidente em relação ao major Reinado e aos outros rebeldes e a compensação dada por Alkatiri a Rogério Lobato, ao permitir a sua ascensão a vice-presidente da Fretilin.

O apelido Lobato tem um peso enorme no país, sendo um dos clãs históricos da luta pela independência desde 1975. O irmão de Rogério, Nicolau Lobato, foi o primeiro líder máximo das Falintil nas montanhas. A sua morte, ao fim de 12 horas de combate com os indonésios no último dia de 1978, fez dele o maior mártir de Timor. Embora exilado, Rogério sucedeu-lhe no lugar, mas acabaria por cair em desgraça quando nos anos 80 foi apanhado em Angola a fazer tráfico de diamantes, o que lhe valeu dois anos de prisão, sendo acusado por alguns colegas da própria Fretilin de o ter feito em benefício próprio.

Quando regressou a Timor ao fim de 25 anos no estrangeiro, um grupo de centenas de ex-combatentes liderados pelo guerrilheiro L7 viu nele o político capaz de representar o seu descontentamento por não terem sido integrados nas forças armadas do país recém-criado. Nos corredores do palácio do Governo asseguram que foi esse o apoio decisivo no convite que Mari Alkatiri lhe fez para ocupar o cargo de ministro da Administração Interna (mais tarde, ministro do Interior, já sem a área da administração estatal). L7 chegou a ser nomeado assessor de Lobato para a segurança, mas os dois acabariam por se desentender em 2003.

Ambicioso e temperamental. Rogério Lobato é descrito em Díli como um homem ambicioso e temperamental que gosta de controlar os seus homens e de impor respeito com uma autoridade musculada. Um episódio ocorrido no início deste ano perante jornalistas da televisão local e perante o próprio procurador-geral da República demonstra como é capaz de actuar. Ao acompanhar a detenção de um grupo de jovens arruaceiros, mandou-os encostar à parede e pediu para desligarem por momentos a câmara de televisão, aproveitando o intervalo para dizer aos detidos: «Ou me contam a verdade ou parto-vos as pernas». Uma personalidade forte que, juntamente com o seu apelido sonante, parecem fazer de Alkatiri apenas um seu refém.

Golpe em Timor-Leste liderado por ex-ministro
OS DADOS recolhidos pelos investigadores internacionais apontam para o ex-ministro do interior de Timor-Leste, Rogério Lobato, como responsável por um complexo golpe de Estado que visava eliminar a cúpula das Forças Armadas. Os procuradores internacionais já viram a sua segurança reforçada, 24 horas por dia, como medida de precaução, uma vez que está em parte incerta uma quantidade significativa de armas compradas para a polícia por Rogério Lobato.

Em Liquiçá, um grupo de 33 homens armados com metralhadoras admitiu ter trabalhado sob as ordens do ex-ministro do Interior. Um relatório desse grupo, assinado pelo comandante Railos e entregue esta semana ao Presidente Xanana, inclui os nomes de todos os elementos da Fretilin com quem houve encontros e com quem foram feitas transacções de armas e equipamentos, além de discriminar o nome dos mortos e feridos em combate. Dois grupos semelhantes estarão a operar no interior de Timor-Leste. Estes grupos de paramilitares fazem parte de uma alega da estrutura de segurança secreta da Fretilin, estão armados com metralhadoras e usam fardas da Unidade de Reserva da Polícia.

Em entrevista ao EXPRESSO, o ex-ministro Rogério Lobato admite que «se a Fretilin se levantar, ninguém a controla».

«Conhecemos todos os buracos deste país»
O EX-MINISTRO do Interior resolveu abrir a porta da sua casa ao EXPRESSO, ontem à noite, para acusar o comandante-geral da polícia, o presidente Xanana Gusmão e padres da Igreja Católica de estarem por detrás da tentativa de golpe de Estado no país. Pelo meio, admite ter criado o grupo paramilitar do comandante Railos, pondo em xeque o próprio primeiro-ministro Mari Alkatiri.

E ainda deixa um recado: quando a Fretilin se levantar, será o povo todo a levantar-se.

Existem várias versões sobre o que aconteceu em Timor. Qual é a sua?

Na minha carta (de demissão) eu refiro claramente um comando bicéfalo.

O que quer dizer com bicéfalo?

Que a intervenção do Presidente sobre os peticionários afectou as relações com os militares.

Xanana Gusmão deveria ter tido outra atitude com os militares?

Deveria ter sido mais ponderado e não vir a público atacar e deitar abaixo. Isso caiu mal nas pessoas que andaram com ele no mato durante muitos anos. Mas este problema surgiu muito antes. A PNTL (Polícia Nacional de Timor-Leste) está sob a tutela exclusiva do Governo. A partir de uma dada altura, apercebi-me de que muitas vezes o senhor comandante da polícia ia reunir-se na Presidência da República sem o meu conhecimento. Sem, inclusivamente, o conhecimento do primeiro-ministro. Naturalmente que isso me preocupou (...). E depois há uma manifestação que deixa de o ser para passar a ser um acto de violência organizada. Isso o que é? É crime!

O senhor não estava a acompanhar as operações da Polícia para fazer frente a essa manifestação de 28 de Abril?

Estava. Só que as ordens que eu tinha dado era para que a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) se concentrasse toda no palácio do Governo.

Deu essas ordens a quem?

Dei-as ao comandante-geral.

E ele disse-lhe o quê?

Disse-me que sim, mas depois pura e simplesmente não as cumpriu.

Que tipo de relação tem o comandante-geral da polícia com Xanana Gusmão? Como é que essa relação poderá ter prejudicado a actuação da Polícia?

Essa relação acabou por tornar ineficaz a actuação da Polícia.

Parece-lhe que o comandante-geral da Polícia foi influenciado pelo Presidente?

Não quero fazer a acusação, mas sei que houve contactos de que não tivemos conhecimento.

E já questionou Xanana Gusmão?

Não.

Entre o dia 23 e o dia 24 houve um ataque ao quartel-general do Exército em Tassitolu por rebeldes e polícias em que estava presente o comandante Railos e os seus homens. O senhor é acusado de ter criado esse grupo paramilitar.

Essas acusações são descabidas e falsas. Nós constituímos um grupo de antigos combatentes que conhecem todos os esconderijos por onde entravam as milícias. Eles seriam pisteiros que ensinavam os homens da nossa Unidade de Reserva da Polícia (URP) para poderem actuar numa situação de guerrilha...

Incluindo o comandante Railos e os seus homens?

Esses homens foram recrutados mais tarde. Nós vimos que era necessário criar um grupo com experiência, só que depois descoordenou-se completamente. Fez o que quis.

Quantos homens fazem parte desses grupos paramilitares?

Penso que são 15.

O comandante Railos diz que tem 30.

É possível que tenham aumentado para 30.

E que é da segurança secreta da Fretilin.

Não.

O primeiro-ministro já admitiu que eles são da Fretilin...

Nós recrutámo-los para serem pisteiros...

Mas são militantes da Fretilin.

Bom, eles podem ser militantes da Fretilin ou não. São antigos combatentes.

O primeiro-ministro assumiu que recebeu o comandante Railos e dois dos seus adjuntos em sua casa no dia 8 de Maio.

Naturalmente, mas sempre dentro daquele quadro de integrá-los nessa força que nós temos.

O comandante Railos diz que recebeu uma ordem sua para travar os peticionários nos dias 23 e 24 de Maio em Tibar. É verdade?

As pessoas em Díli estavam muito preocupadas na altura.
Houve os ataques em Tibar e estavam milhares de pessoas lá acantonadas. Foi por isso que eu pedi para fazerem tudo no sentido de impedirem que essas forças chegassem a Díli, para não semearem a morte. Até porque uns dias antes tinham sido assassinados familiares meus: a minha cunhada e cinco sobrinhas. Foi o esforço que nós fizemos. Não resultou.

Muitos padres acusam a Fretilin, Mari Alkatiri e o senhor de distribuírem armas.

Um desses padres tem contactos com o major Mustafá para introduzir armas em Timor.

Quem é o major Mustafá?

Eu acho que já falei de mais. Eles que não comecem a falar, porque nós conhecemos-lhes os rabos de palha. Nós não temos segredos. Até agora a Fretilin não se levantou. Quando pedi a minha demissão do Governo foi porque todas asbaterias estavam apontadas para o senhor primeiro-ministro. Parece que ele é o grande demónio deste país e os outros são todos santos. Não são santos. O santo é mesmo ele.

Prevê a possibilidade de uma guerra civil?

Guerra civil contra quem? Quando a Fretilin se levantar, será o povo todo. Nós conhecemos os buracos todos deste país.

O senhor já fez uma longa lista de acusações - Presidente, polícias, Igreja....

Eu deixaria aos jornalistas a investigação.

Acha que se trata de uma aliança?

Não há dúvida nenhuma.

E inclui nesse lote o ministro Ramos-Horta?

O meu compadre Ramos-Horta... se um ministro critica o próprio primeiro-ministro... Não gostaria de responder da mesma forma.

Could anyone translate this to English?...


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